Na aviação executiva, a confirmação de um novo governo pode destravar vendas de aeronaves que estavam encaminhadas, mas não será suficiente para reaquecer a demanda por jatos, turboélices e helicópteros particulares. Executivos de algumas das maiores fabricantes presentes esta semana na Labace, feira anual brasileira de aviação executiva, apontam que a recuperação das vendas será gradual, para durar dois ou três anos.
No Brasil, a frota de jatos diminuiu 2,7% em 2015, para 824 unidades, e o setor da aviação executiva só não encolheu porque a frota de turboélices cresceu 3,6%. O presidente mundial da Dassault Falcon, Jean Rosanvallon, diz que a demanda mundial vai encontrar um ponto de equilíbrio mais perto do vale, de 700 unidades vendidas em 2015, que dos picos de 2008, quando mais de 1,3 mil aeronaves foram vendidas. De 2014 e 2015, as encomendas recuaram de € 3,9 bilhões para € 1,6 bilhão.
Para Rosanvallon, nesse contexto, a estratégia é investir em novos modelos que atraiam atuais clientes e usuários de concorrentes no momento de trocar das aeronaves. Por isso, a Dassault Falcon não economizou para trazer à feira brasileira o novíssimo 8X, com preço de tabela de US$ 60 milhões.
Das 20 encomendas do 8X feitas no mundo, quatro estão no Brasil. “Queremos que quem tenha um 7X compre um 8X”, disse. No Brasil, entre os donos desse avião que faz a rota São Paulo-Moscou sem escalas estão Abilio Diniz e os irmãos Grendene.
Mas essa disputa por um mercado cuja demanda sofre estagnação provoca deflação dos ativos, admite o vice presidente de vendas para América Latina da Bombardier, Andrew Ponzoni. Para ele, essa conjuntura de descontos e preços mais baixos deve continuar. “É uma situação demercado, de oferta maior que a demanda”, afirmou o executivo.
Ponzoni aponta que parte das concessões passa por benefícios no programa de manutenção das aeronaves e até no treinamento de pilotos. “Tem que reforçar o foco em nosso ‘corebusiness’, oferecer o melhor serviço para um cliente premium”, afirma.
No segundo trimestre deste ano, a receita da Bombardier Jatos Executivos caiu 19% para US$ 1,47 bilhão. Já as entregas diminuíram de 47 para 42 unidades.
O vice-presidente de vendas da Textron, grupo americano fabricante dos modelos Cessna, Beechcraft e Bell, Lannie O’Bannion, afirma que o atual ciclo de demanda estagnada favorece empresas que têm linhas mais amplas de produtos, para não depende apenas de um nicho. No Brasil, a Textron tem mais de 5,5 mil aeronaves – se somados os aviões Cessna e Beechcraft com os helicopteros Bell e Hawker. O’Bannion diz que esse tamanho da frota exige uma parceria local para impedir que a crise afete vendas e serviços. “Por isso ampliamos o acordo com a TAM AE”, disse o executivo sobre o contrato com a empresa de aviação executiva da família Amaro, também acionista minoritária da Latam Airlines.
A TAM AE investiu de 2014 a 2016 cerca de US$ 15 milhões no novo centro de manutenção em Aracati (CE), onde há manutenção dos modelos da Textron. “É uma opção para atender demandas novas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, América do Sul e Caribe”, disse O’Bannion.
O vice presidente para aviação executiva da Embraer, Marco Túlio Pellegrini, diz que a linha de produtos da fabricante brasileira também tem a diversidade para atender demandas dos diferentes perfis de compradores, com aeronaves que variam de US$ 3 milhões (Phenom 100) a US$ 43 milhões (Lineage 1000).
Com uma carteira de 700 clientes em 60 países, a Embraer Aviação Executiva revisou para baixo a previsão de vendas para este ano, de até 135 unidades para até 125 aviões.
Mas Pellegrini afirma que o setor precisa desenvolver novos mercados. “Não podemos aceitar que o caminho seja o dos descontos porque isso desvaloriza a indústria toda”, afirma o executivo. Ele aponta que há espaço para operadores de aviação executiva – semelhantes ao que existe na aviação comercial. “Empresas de leasing poderiam comprar jatos executivos e coloca-los para operar em empresas que atuariam em rotas para atender demandas por viagens aéreas de várias empresas”, diz.
O executivo cita a quarta maior operadora de charters nos Estados Unidos. A Jetsuite, que tem entre os sócios o empresário David Neeleman – fundador da JetBlue e atual dono da Azul e da TAP -, opera algumas linhas com aeronaves Phenom 100 e Phenom 300 que são usadas por executivos e funcionários de empresa e rotas que não apresentam tráfego de lazer mas em rotas que existe demanda corporativa.
Por João José Oliveira | De São Paulo