A Boeing não tirou do Brasil o posto de mercado estratégico no mapa global da aviação, mas a presidente da empresa no país, Donna Hrinak, admite que a atual conjuntura de recessão econômica e crise política deixa sequelas que comprometem o potencial local como mercado e como plataforma para novas tecnologias e para formação de profissional.
Donna, no país há três décadas como embaixadora americana e executiva das multinacionais Mondelez e Pepsico, diz que a descontinuidade impede que o país acompanhe concorrentes, como México. “A indústria aeroespacial no México cresceu mais rápido nos últimos anos”, cita a presidente. Segundo ela, iniciativas governamentais e privadas permitiram aos mexicanos criarem desde 2004 cinco clusters apenas na indústria da aviação. “Temos no México uma rede de fornecedores que exportam só para a Boeing um total de US$ 1 bilhão por ano”, cita Donna.
Mas a presidente da Boeing no Brasil admite que a própria empresa pode ser mais ativa em terras brasileiras. Ela reconhece que é preciso defender um território que, pela geografia, não deve ser dominado pela maior concorrente, a francesa Airbus – grupo que já fincou bandeira aqui com uma unidade industrial, a fabricante de helicópteros Helibrás.
O Brasil responde por 40% da demanda de aeronaves comerciais da Boeing na América Latina. E a região deve comprar perto de 3 mil aviões nas próximas duas décadas, ou US$ 300 bilhões em encomendas.
“No ano que completamos cem anos vemos que podemos oferecer aquilo que o Brasil precisa e aspira: ser referência na indústria aeroespacial e em biocombustíveis sustentáveis para aviação”, diz Donna, apontando que a empresa pode ampliar investimentos no Brasil. “Nos últimos anos investimos US$ 5 milhões no Brasil.” Ela ressalta que o Brasil abriga um dos seis centros de excelência da companhia no mundo fora dos Estados Unidos; os outros ficam na Europa, Austrália, India, China e Rússia.
A executiva afirma que o potencial a ser explorado no Brasil começa pela aviação comercial. O transporte regular de passageiros e de carga ainda tem muita demanda reprimida. Donna diz que o novo projeto de aviação regional do governo – com foco em 53 aeroportos em vez fazer obras em 270 terminais, como originalmente planejado – é uma solução mais racional que sinaliza o caminho correto.
Ela afirma que a Boeing tem uma presença no Brasil diversificada e, por isso, capacidade para ampliar a base de atuação e os investimentos no país. Cita o caso da Gol, maior companhia aérea doméstica brasileira, cuja frota é 100% composta por modelos da fabricante dos EUA. A Gol é uma parceira muito importante para nós”, diz a executiva.
Sobre a redução da frota da Gol – parte da reestruturação que a aérea está fazendo para equilibrar o balanço e evitar a falência -, a presidente da Boeing diz que esse tipo de movimento
também afeta concorrentes. Latam e Avianca também estão postergando recebimento de novos aviões da Airbus. Mas o Brasil precisa ainda mais investimentos e tecnologia em Defesa & Segurança, diz Donna, sobre um segmento em que a Boeing quer ampliar presença.
A executiva lembra outras parceiras no Brasil, como os acordos com a Embraer. A Boeing tem presenças em projetos da fabricante brasileira, como o do novo cargueiro militar KC-390 e com o desenvolvimento de biocombustível na aviação.
Em 2015, Boeing e Embraer inauguraram um centro conjunto de pesquisa em biocombustíveis em São José dos Campos (SP), para desenvolver estudos e coordenar pesquisas com universidades e outras instituições brasileiras. Neste mês, as duas empresas iniciaram os testes no programa ecoDemonstrador, para testar tecnologias ligadas à sustentabilidade.
VALOR
Por João José Oliveira | De São Paulo