Do alto do viaduto de acesso ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves, a visão da fachada espelhada de um edifício monumental anuncia que os tempos são outros em Confins, na Grande Belo Horizonte. Novo terminal dá o devido peso de um aeroporto internacional a capital, com a ampliação da capacidade de movimentação de passageiros para 22 milhões ao ano – em 2016, foram 10 milhões. Mas a recém-inaugurada estrutura, que apaga a imagem de um terminal erguido na década de 1980 com a pecha de elefante branco, não está livre de obstáculos econômicos e operacionais. O primeiro desafio é afastar o risco de se tornar ocioso num período de crise econômica e redução das viagens aéreas. Além disso, o terminal enfrenta a limitação imposta por uma única pista, entrave à operação, segundo especialista do setor ouvido pelo Estado de Minas. Para impulsionar essa nova fase de Confins, a concessionária BH Airport, que já investiu R$ 870 milhões no terminal, lista uma série de estratégias. Em dois anos, a ideia é atrair mais um voo direto para a Europa e outro para os Estados Unidos (Nova Iorque ou Orlando), ampliando também a grade de trechos domésticos. A empresa ainda estuda a transformação do terminal 3, que ficou conhecido como puxadinho, em um centro comercial.
Na próxima sexta-feira, o terminal 3, em operação há pouco mais de um ano, será desativado, com a transferência dos voos internacionais para a nova estrutura do Aeroporto Internacional Tancredo Neves. Com a desocupação do espaço, que deveria ter ficado pronto para a Copa do Mundo’2014, a BH Airport traça novos planos para o local. A concessionária estuda a viabilidade econômica de duas propostas, segundo o diretor-presidente da BH Airport, Paulo Rangel.
“Uma das possibilidades é alugar para a operação comercial. Havia uma ideia de se fazer um polo de moda próximo a Confins e o espaço pode funcionar para isso”, afirma. A outra possibilidade é fazer dali uma área para receber empresas que dão suporte às companhias aéreas em serviços como alimentação e transporte de bagagens. “Precisamos aumentar o espaço para elas”, diz.
A definição do destino do puxadinho é somente uma das frentes de trabalho da administração do novo aeroporto, que enfrenta o desafio de impulsionar o crescimento do fluxo de passageiros, frente a uma crise econômica que se arrasta. A previsão da concessionária era de retomada da economia no primeiro semestre deste ano, mas a percepção é de que o aquecimento só ocorrerá a partir de julho.
Ano passado, houve queda de 15% no tráfego de passageiros de Confins, que recebeu menos de 10 milhões de pessoas. Nos próximos 10 anos, a meta é chegar à capacidade máxima do terminal, de 22 milhões de passageiros ao ano. Aumentar a presença de mineiros no aeroporto e de visitantes em Minas é o primeiro ponto de partida para a esperada expansão, de acordo com Rangel. “Houve uma evasão de mineiros para outros aeroportos, como Campinas. Também fizemos um convênio com a secretaria de Estado para apresentar Minas como um destino”, afirma.
A criação junto às companhias do stopover em BH é uma outra estratégia que poderá ser usada para atrair público. Trata-se de uma parada no meio da viagem para que o passageiro passe um tempo na cidade de conexão. A localização de Confins, distante uma hora das principais capitais, é considerada ponto forte para incrementar a rota de conexões. A concessionária também quer transformar a rapidez nas conexões um fator de atração de voos. “Ganhamos como o aeroporto mais rápido do Brasil. Agora, com o novo terminal, uma conexão poderá ser feita em uma hora. Isso vai ser um diferencial”, diz.
Novas rotas internacionais estão nos planos. Atualmente, os destinos no exterior respondem por 4% da operação e se limitam a três opções: Lisboa (TAP), Miami (American Arlines) e Cidade do Panamá (Copa). Em março, a Azul e a Gol inauguram voo de BH para Buenos Aires. Segundo Rangel, nos próximos dois anos, o terminal deverá ter mais um destino na Europa e outro nos Estados Unidos, provavelmente Nova Iorque ou Orlando.
SEGUNDA PISTA A despeito da ampliação e modernização da estrtura do terminal, o maior gargalo do aeroporto ainda não foi resolvido, na avaliação do coordenador do curso de engenharia aeronáutica da Universidade Fumec, o engenheiro aeronáutico e piloto Rogério Parra. “O problema de Confins é a pista. Não adianta aumentar muito o aeroporto com uma pista só. Até Santos Dumont (RJ), que é pequeno, tem duas”, afirma. O especialista afirma que terminais com somente uma pista ficam limitados e vulneráveis. “Se um pneu fura, ele fica interditado por uma hora”, exemplifica.
A obra de ampliação da pista havia sido contratada ainda sob a gestão da Infraero, antes de a concessionária BH Airport assumir. Os trabalhos foram paralisados por causa da escassez de recurso da União. Segundo a BH Airport, a construção de uma segunda pista, com extensão de 2,5 quilômetros, faz parte da próxima etapa de melhoria da infraestrutura. A obra deve começar em 2020 ou quando o terminal alcançar a movimentação de 198 mil pousos e decolagens – atualmente são 105 mil.
Fonte: Estado de Minas