Entre abril e junho 690 mil brasileiros voltaram ao mercado de trabalho, reduzindo a taxa de desemprego para 13% no segundo trimestre, ante 13,7% do período anterior. Uma reação muito mais forte e antes do esperado, trazendo mais uma evidência de que a economia está mesmo se descolando da crise política. Tudo indica que essa nova trajetória do emprego está mais consistente, mesmo que siga em ritmo lento e fragilizado daqui para frente. 

A mesma fonte que traz a boa notícia sobre o desemprego, traz indícios de que a recuperação ainda não é de qualidade do trabalho, da renda, nem da produção. A informalidade está crescendo, já que a quantidade de pessoas com carteira assinada ficou estável no segundo trimestre. Na informalidade, o trabalhador está fora da rede de proteção das leis trabalhistas – mesmo depois da reforma da CLT – e fica numa situação de maior instabilidade. 

Ao mesmo tempo, o emprego sem registro adia uma outra recuperação essencial para a economia: a arrecadação de impostos. Os tributos ligados ao emprego são dos mais seguros e constantes da malha tributária do país. Claro que há um efeito secundário da informalidade que vem através do consumo de produtos e serviços, que também melhoram a arrecadação. Mas pode ser mais volátil e difícil de prever e organizar o controle das contas públicas.

Há um outro ponto importante nesta leitura da retomada dos empregos: o da produtividade. A criação de novas vagas, mesmo que informais, deveria estar acontecendo diante de um cenário de recuperação mais forte da atividade econômica. A economia cresce e por isso aumentaria a oferta de trabalho. A dinâmica que acontece agora, em que o emprego está subindo com mais força do que o PIB,  significa que as empregadores estão contratando mais gente para continuar fazendo o mínimo, não para fazer mais. 
 
“Essa é a má notícia dessa taxa de desemprego mais baixa. A produtividade deveria crescer em momentos de recuperação. Mas com a previsão de um PIB perto de 0,2%, como é a nossa estimativa, a retomada mais forte do emprego mostra que a produtividade continuará baixa”, disse Alexandre Ázara, economista da Mauá Capital. 

Quem ainda duvida do descolamento da economia da crise política, argumenta que os índices de confiança só pioram desde a eclosão da delação da JBS e da explosão da impopularidade de Michel Temer. É verdade, consumidores e empresários passaram a ficar mais pessimistas com a situação presente e com futuro, o que comprometeria a recuperação da economia.

Olhando para este ponto específico, passei a me perguntar sobre o que exatamente este dado está nos dizendo. Certamente ele revela um descontentamento profundo com a situação do país, da política, da corrupção e, sim, uma desesperança com o futuro. Mas será que este sentimento está atrapalhando ou limitando as decisões das pessoas na vida real, no seu dia a dia? 

A inflação está caindo demais e rapidamente. O índice do aluguel, IGPM, está negativo há quatro meses seguidos. Os juros também estão em trajetória de queda, podendo chegar a 7% ao final do ano. A formação de preços no país está acontecendo em patamares mais baixos, valendo inclusive para os salários. Estamos exaustos da recessão mais aguda da nossa história, que nos mergulhou numa depressão profunda, limitando sonhos e planos de vida e dos negócios. 
 
A queda do desemprego pode ser o primeiro dado mais contundente de que, a tristeza com o lamaçal na política não está sendo capaz de impedir as pessoas de realizar projetos, contratar e voltar a consumir. Tudo pode acontecer lentamente, que é o mais provável, mas a trajetória parece irrefutável.

Fonte: G1