BRASÍLIAE RIO – O governo detém um tipo de ação na Embraer, denominada golden share (ação de ouro ou dourada, em tradução livre do inglês), que garante poder de veto em eventual mudança acionária na empresa. E é contando com esse instrumento que não vai permitir que a indústria brasileira de aeronaves passe totalmente para o controle da americana Boeing. Essa é a posição do presidente Michel Temer, transmitida ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, e a outras autoridades da área militar, ao tomar conhecimento da operação em curso. Segundo interlocutores, Temer afirmou: “Em meu governo, a Embraer jamais será vendida”. Uma fonte graduada do governo revelou que uma possibilidade seriam as duas empresas atuarem em projetos conjuntos, na forma de associações e joint-ventures. É com esse caminho que o Palácio do Planalto estaria trabalhando. — O que existe é uma reestruturação global do mercado: associação Bombardier/Airbus, além de China e Japão entrando no nicho de aeronaves médias — explicou essa fonte.
— A Embraer não passará para a Boeing. Ela é inegociável! O poder de veto pode ser aplicado em várias situações. Por exemplo, na mudança no nome da companhia ou de seu objeto social; na criação/alteração de programas militares que envolvam ou não o Brasil; na interrupção de fornecimento de peças de manutenção e reposição de aeronaves militares; e na transferência de controle acionário. A avaliação de integrantes do governo é que qualquer negócio entre a Embraer e a Boeing deverá ser analisado com “cuidado”. Isso porque a companhia brasileira tem importante participação no desenvolvimento de tecnologia nacional e na produção de equipamentos militares, segundo uma fonte da área econômica. Quando esteve em viagem oficial à América do Norte, em meados de novembro, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, se encontrou com autoridades da Boeing. Na época, entre os assuntos tratados, foi abordada a boa relação entre Embraer e Boeing têm, mas não se falou em compra ou associação das empresas.
ÔNUS POLÍTICO
Na viagem, o ministro disse que a americana poderia vir a se associar à fabricante brasileira em mais um projeto, relacionado a uma eventual exploração da base de lançamentos de Alcântara (MA), cuja cooperação entre Brasil e Estados Unidos está em análise pelo Departamento de Estados dos EUA. Na avaliação de Jorge Leal, professor de Transporte Aéreo da Escola Politécnica da USP, dificilmente o interesse comercial das duas empresas vai se sobrepor ao interesse do governo brasileiro. — A área de defesa é estratégica para qualquer governo. Dificilmente, o Brasil vai permitir que a empresa que fornece aviões para a Força Aérea Brasileira fique nas mãos de outro governo — disse o Leal. Pode até ser que seja feito algum tipo de associação, mas não compra de controle. Além da questão estratégica, avaliam pessoas que acompanha m o setor de defesa, qualquer decisão do presidente da República reflete sobre sua popularidade, já que a Embraer, assim como a Vale, ainda são símbolos nacionais, apesar de terem sido privatizadas há bastante tempo. — Acredito que Temer não vai querer esse ônus político — disse uma fonte. O governo brasileiro detém golden share na Embraer, na Vale e no IRB. Essa classe especial de ações geralmente existe em empresas estatais ou de capital misto. Há alguns meses, contudo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, consultou o Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a possibilidade de extinguir essa classe de ação.


