Serviço extra ajuda aéreas a compensar demanda fraca

 Por João José Oliveira | De São Paulo

As companhias aéreas planejam aumentar as receitas auxiliares este ano para atenuar, ao
menos parcialmente, a demanda fraca no país, que tem levado à redução do preço médio das passagens.

Apenas no primeiro trimestre deste ano, Gol e Latam (dona da TAM) faturaram R$ 1,6 bilhão com itens como transporte de carga, venda de alimentos e bebidas a bordo, assentos especiais e remarcação de passagens.

Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), as receitas auxiliares responderam por
14,5% dos R$ 31,2 bilhões que a aviação comercial brasileira faturou em 2013 (dados recentes disponíveis), ou R$ 4,5 bilhões. Estimativas de mercado apontam que TAM, Gol, Azul e Avianca alcançaram R$ 4,9 bilhões em receitas auxiliares em 2014 no país e devem tentar atingir R$ 5,5 bilhões este ano.

“As receitas auxiliares no setor podem chegar a 20% do faturamento total. Esse é o potencial para os próximos dez anos”, aponta o analista do Banco do Brasil Investimentos (BBI), Mario Bernardes Junior, especialista em transportes. “O que é um dado positivo porque gera caixa, tem baixo custo de implementação e reduz a exposição das empresas a variáveis como câmbio e demanda fraca”.

O plano das brasileiras segue uma tendência mundial. Segundo a firma americana de pesquisa Idea Works, as companhias aéreas faturam globalmente quase U$ 50 bilhões com receitas auxiliares em 2014, ou 17% mais que em 2013. Apenas nos Estados Unidos, esse nicho gerou mais de U$ 15 bilhões.

No caso do Brasil, a necessidade de as empresas ampliarem o segmento é mais urgente por
causa da conjuntura. A agência de classificação de risco Fitch apontou, em relatório divulgado em maio, que o setor terá margens operacionais pressionadas este ano devido à demanda fraca, especialmente em viagens de negócios; depreciação do real ante o dólar; e baixa atividade econômica.

A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) informou na semana passada que as
tarifas médias este ano estão cerca de 20% abaixo das cobradas em 2014. No segmento
corporativo, os descontos chegam a 40% para atrair clientela. De janeiro a maio, a demanda
no setor aéreo ainda acumula avanço de 4,17%, mas abaixo da alta de 5,4%, registrada em igual período do ano passado. O desafio do setor, diz Eduardo Sanovicz, presidente da Abear, é fechar o ano sem retração.

Segundo a IdeaWorks, a principal fonte de receitas auxiliares no mundo são os programas de
fidelidade, respondendo por 55% do segmento. Essa é uma das apostas do grupo Latam, que
elevou em 42,8% as receitas extras, para R$ 279,3 milhões – excluindo cargas -, no primeiro
trimestre deste ano, ante 2014. A maior contribuição veio do incremento de R$ 70,9 milhões, das receitas da Multiplus, empresa de fidelidade da TAM.

Dados do Banco Central mostram que as transações com cartão de crédito “premium” – aqueles que geram mais pontos para os programas de fidelidade – cresceram 350% entre 2008 e 2014, ante avanço de 62% nas transações com cartões básicos. Quase 80% dos pontos resgatados são transferidos para Multiplus, da TAM, e Smiles, da Gol.

No primeiro trimestre deste ano, a Gol obteve R$ 277,8 milhões em receitas auxiliares – incluindo cargas -, 33% mais que um ano antes. O destaque foi o crescimento da oferta do programa Gol+Conforto, assentos com mais espaço nas primeiras filas das aeronaves.

A empresa elevou de 8,4% a 11,1% o percentual das receitas auxiliares no faturamento trimestral. Esse é um instrumento para atenuar o impacto da fraca demanda corporativa na receita com passageiros, diz o vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Gol, Edmar Lopes.

O consultor especialista em aviação da Bain & Company, André Castellini, aponta que as aéreas brasileiras devem estar diversificando as fontes de receitas auxiliares, pois na década passada a taxa de remarcação de passagens era o principal item desse segmento.

No caso da Gol, a tecnologia vai contribuir para essa ampliação. A aérea anunciou este mês um programa que oferecerá internet em todos os voos a partir de 2016. Além de serviços
gratuitos – como acesso a redes sociais e páginas de notícias, filmes e games – pacotes pagos
estarão a disposição dos passageiros. “Fizemos projeções conservadoras de receita a mesmo
assim esperamos ter uma fonte importante de faturamento extra”, afirmou o presidente da GOl, Paulo Kakinoff, durante o lançamento do projeto.

Hoje, em termos de volume, o setor de cargas ainda é a mais relevante fonte de receita auxiliar. “Qualquer carga transportada no porão do avião representa margem extra porque os custos são quase totalmente pagos pelos passageiros”, aponta o diretor-geral da TAM Cargo, Luiz Quintiliano, que projeta faturar com o transporte de cargas este ano 5% mais que em 2014.

De fato, a carga transportada pela TAM (incluindo dados da controlada Absa) caiu de 71,2 mil toneladas em abril de 2014 para 56,6 mil toneladas em igual mês de 2015. A movimentação da Gol cedeu de 29,2 toneladas a 27 mil toneladas.

Mas a Avianca e a Azul conseguiram elevar o faturamento com transporte de cargas. A primeira colocou em operação mais um avião cargueiro, elevando de 7,3 mil toneladas a 11,6 mil toneladas o volume transportado. E a Azul transformou uma de suas aeronaves ATR para dedicação exclusiva a cargas, além de contar agora com os aviões Airbus, elevando assim de 7,5 mil toneladas a 7,8 mil toneladas o volume embarcado em abril.

“Hoje, temos de 10% a 12% de nosso faturamento proporcionado pelas receitas auxliares”,
disse o presidente da Azul, Antonoaldo Neves, que também aponta avanços nas receitas
auxiliares provenientes do programa de fidelidade e da agência de viagens. “A grande mudança na receita auxiliar é o Tudo Azul [programa de fidelidade]. Chegamos a 5 milhões de participantes, de 2,3 milhões em 2013”.

Fonte: VALOR

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