Acidente com a Chapecoense lança alerta no mercado de voos fretados

 

Duas décadas se passaram entre a quase tragédia com o time do Corinthians no aeroporto de
Quito em 1996 -mesmo ano do acidente fatal com a banda Mamonas Assassinas, em São Paulo-
e a queda do avião da Chapecoense nos Andes colombianos.

No Equador, o avião da delegação alvinegra não conseguiu decolar e foi parar na avenida em frente
ao aeroporto. A aeronave fretada, que havia sido usada por uma empresa de Marrocos, era da
então novata companhia brasileira Fly, que teve vida curta.

Nesta semana, a morte de 71 pessoas, entre jogadores, comissão técnica, dirigentes e jornalistas
após a queda do único avião em funcionamento da empresa boliviana LaMia voltou a disparar o
sinal de alerta no mercado de fretamentos aéreos.

Principalmente os times de futebol, formados por grandes grupos, preferem alugar um avião inteiro
porque isso facilita o deslocamento.

Os horários, normalmente, são definidos pelas comissões técnicas, o que é conveniente para o
descanso e a preparação dos atletas. Os custos tendem a ser menores.

Após a tragédia, os times brasileiros querem que a Conmebol, órgão responsável pelo futebol no
continente, organize um sistema único de logística para os deslocamentos pela América Latina.

Os jogadores do Boca Juniors pediram para usar apenas os voos de carreira. Isso apesar de o
time de Buenos Aires usar muitas vezes uma empresa argentina especializada em fretamentos,

considerada idônea no mercado.

Em Chapecó, os enlutados pais de alguns jogadores reclamaram de o clube ter escolhido voar
em um avião alugado, de uma empresa praticamente desconhecida.

Os dirigentes da agremiação se defenderam, dizendo que alugaram um equipamento de uma
empresa conhecida, que havia feito dezenas de voos com times de futebol nos últimos meses.

“É um processo de logística importante, não pode ser feito pensando apenas no custo. Ou como
se fosse o aluguel de um carro em uma locadora”, diz Marcus Reis, piloto e coordenador do curso
de ciências aeronáuticas da Universidade Estácio, do Rio.

Segundo ele, é comum ocorrer muitos acidentes rodoviários, em finais de semanas, com grandes
grupos, porque o aluguel foi feito apenas levando em consideração o custo da viagem. E não o
estado do ônibus nem a habilitação dos motoristas.

“No caso da logística aérea, existem pessoas especializadas em achar soluções, porque

conhecem o setor.”

Apesar da insegurança gerada pelo acidente, o mercado de fretamento no Brasil e na maioria dos
países é seguro, dizem os especialistas.

Ele é feito normalmente com aviões das grandes empresas do setor e também segue as mesmas
regras da aviação comercial nacional.

Mesmo as empresas especializadas em fretamentos usam aviões de renome. Inclusive o modelo
britânico que caiu nesta semana.

No Brasil, os especialistas afirmam, um acidente como o registrado na Colômbia não teria
chances de ocorrer.

Isso porque, segundo eles, se um piloto apresentar um plano de voo em que a autonomia for a
mesma da duração da viagem, a decolagem não seria autorizada.

As evidências mostram que isso ocorreu na Bolívia e, mesmo assim, houve a saída.

O mercado de fretamentos no Brasil não é maior mais por uma questão comercial do que
logística ou de segurança, afirma o coronel Douglas Machado, piloto, consultor de empresas do
setor e especialista em investigações de acidentes aéreos.

“É um mercado com muito potencial. Seja por causa dos times de futebol, seja por causa do
turismo”, diz.

“No caso do futebol, existe demanda o ano inteiro. Portugal [um país menor], por exemplo, tem
ao menos três empresas de fretamento.”

Apesar de o preço variar bastante, o fretamento de um jato para quase 200 pessoas, estimam os

especialistas do setor, pode variar de US$ 8 mil a US$ 15 mil a hora de voo.

Os clubes que costumam fazer isso ainda podem vender os lugares vazios para torcedores ou
jornalistas.

“No Brasil, atualmente, deve existir, em média, a decolagem de cinco a seis voos fretados por
dia”, estima Machado. São mais de 3.000 voos regulares por dia no país.

CLUBES PRESSIONAM CONMEBOL

Depois da tragédia com o avião da Chapecoense, clubes brasileiros cogitam pressionar a
Conmebol para que a confederação mude a forma como as viagens de competições
sul-americanas são feitas.

Uma das ideias é pedir que a entidade dê suporte para os deslocamentos, no formato que a CBF
faz no Brasileiro, por exemplo.

CAMILA MATTOSO

DE BRASÍLIA

Fonte: Valor

 

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