CONCESSIONÁRIA DE VIRACOPOS DEU DINHEIRO A OPERADOR

O Grupo Triunfo, que é sócio da construtora UTC na concessão do Aeroporto de Viracopos, em Campinas, é um dos alvos da 36ª fase da Operação Lava-Jato, deflagrada ontem pela Polícia Federal. A empresa teria repassado pelo menos R$ 4,8 milhões a empresas do advogado Rodrigo Tacla Duran, um operador financeiro que teria intermediado o esquema de pagamento de propinas de empreiteiras e outras prestadoras de serviços à administração pública.

Procurado pela Interpol, Tacla Duran está fora do Brasil desde abril. Ele teve prisão preventiva decretada, com pedido de extradição. O juiz Sérgio Moro determinou ainda o bloqueio de até R$ 20 milhões das contas dele e de suas empresas, incluindo o escritório Tacla Duran. Segundo o Ministério Público Federal, o advogado movimentou R$ 61,3 milhões entre agosto de 2011 e agosto de 2015. CONTRATOS FICTÍCIOS O nome de Tacla Duran foi apresentado à Lava-Jato pelo empresário Ricardo Pessoa, da UTC, sócio do Grupo Triunfo. Pessoa disse que o serviço oferecido por Tacla Duran era levantar dinheiro em espécie, por meio de contratos fictícios, assim como Adir Assad, já condenado na Lava-Jato a nove anos e dez meses de prisão. Assad e Tacla Duran agiam em parceria.

— Caixa dois é crime, é produto de crime. Não existe caixa dois inocente. Ele vem de uma prática de lavar dinheiro de crimes. Muito nos preocupa o contexto em que nossos agentes políticos façam uma anistia de caixa dois, uma anistia de lavagem de capitais e de corrupção — disse o procurador Roberson Pozzobon, durante entrevista em Curitiba para detalhar a operação, em alusão à modificação da legislação sobre os acordos de leniência em andamento na Câmara.

A maior cliente de Tacla Duran, no entanto, pode ter sido a Odebrecht. Ele operava diretamente o sistema de pagamento de propinas da empreiteira, com a senha Rui Rey. Era ele quem fazia repasses para as contas do chinês Wu-Yu Sheng no Meinl Bank Antigua e Barbuda, banco comprado pela Odebrecht para movimentar propina. A ligação entre o advogado e o chinês inspirou o nome da 36ª fase da Lava-Jato, Operação Dragão. Era assim que os repasses eram identificados na planilha de propinas da empreiteira.

Tacla Duran mantinha contas em nome de 12 empresas offshore. Numa delas, foram bloqueados US$ 12,9 milhões, repassados em 2010 pela Constructora Del Sur, da Odebrecht. Ricardo Pessoa confessou ter fechado R$ 56 milhões em contratos falsos com Tacla Duran para receber de volta R$ 35 milhões em dinheiro vivo, entre 2009 e 2015. Segundo o MPF, o operador era um elo entre corruptos e corruptores. Os endereços dele foram alvo de mandados de busca e apreensão ontem e, segundo Pozzobon, podem produzir ricas provas à Lava-Jato.

No total, a Polícia Federal cumpriu ontem 16 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Paraná e Ceará.

A quebra de sigilo bancário determinada por Moro mostrou que, apenas entre 2011 e 2013, Duran recebeu R$ 54,7 milhões de sete grupos empresariais: Mendes Júnior (R$ 25,5 milhões), SA Paulista (R$ 10,8 milhões), UTC (R$ 9,1 milhões), Grupo Eit (R$ 3,7 milhões), Construtora Triunfo (R$ 2,1 milhões), Grupo Triunfo, dono da concessionária Econorte e da Triunfo Participações (R$ 2,7 milhões) e Treviso (R$ 652 mil), esta última pertencente ao também operador Júlio Camargo. QUEBRA DE SIGILO Adir Assad, também alvo da Operação Dragão, já foi condenado na Lava-Jato (nove anos e dez meses) e está preso. Moro decretou nova prisão preventiva. As empresas de Assad repassaram R$ 24,2 milhões à Econocell e à TWC, duas das empresas de Tacla Duran. Outra investigada, a consultoria Pagliuca, Carratu & Associados, repassou mais R$ 13,6 milhões.

— No entanto, novas provas indicam que atividades dele transcenderam essas operações já identificadas. Assad está envolvido com operações de lavagem de dinheiro da construtora Odebrecht. Por meio de operações de lavagem de dinheiro, ele foi responsável por realizar geração de dinheiro para propina pelo menos até 2014 — disse o procurador Júlio Noronha.

As empresas de Tacla Duran receberam ainda R$ 652 milhões de Júlio Camargo, “confesso intermediador de propinas”, segundo o MPF.

— Duran foi responsável por lavar dezenas de milhões de reais — relatou Noronha.

Duran ficava com parte do dinheiro e devolvia o restante por meio de doleiros ou de outros operadores, como Assad, que geravam dinheiro em espécie para pagamento de propina a agentes públicos no Brasil.

Noronha disse que os operadores atuaram de forma contínua e prolongada, fazendo da lavagem a sua profissão.

— Atividade criminosa não é profissão. O Estado não pode tolerar.

O GLOBO entrou em contato com as empresas envolvidas e seus advogados. Apenas a Construtora Triunfo informou que foi alvo de buscas da Polícia Federal, entregou os documentos e está à disposição das autoridades para colaborar.

Fonte: O GLOBO

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