Grupos estrangeiros se preparam para leilão de aeroportos

Na reta final para a publicação dos editais do leilão dos quatro aeroportos federais que vão à licitação – Salvador, Fortaleza, Florianópolis e Porto Alegre -, operadores estrangeiros que até então mantinham certa discrição sobre o interesse em participar do certame agora revelam abertamente a disposição em entrar na disputa. Mas ressaltam a necessidade de o governo solucionar pontos que podem pôr em risco o sucesso do leilão – o primeiro do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), vitrine das concessões de infraestrutura do governo Michel Temer.

O alemão Fraport, o suíço Zurich, o francês Vinci, o mexicano Grupo Aeroportuario del Pacifico (GAP) e o espanhol OHL – este, de volta ao Brasil desde que vendeu suas concessões rodoviárias no país para a conterrânea Abertis – esperam o desenho final dos editais, mas demonstraram claro interesse na disputa.

“Por favor, nos deixem ganhar pelo menos um”, disse Michael Kunz, vice-presidente global de investimentos da Fraport.

A Fraport já entrou na disputa em consórcio com a concessionária EcoRodovias em rodadas anteriores, como as de Guarulhos e Galeão, mas não conseguiu levar. “Tentamos e falhamos e estamos muito felizes”, disse o executivo, no que pareceu ser uma referência aos problemas que as atuais concessões têm enfrentado por conta de preços. “Mas, definitivamente, vamos tentar novamente. Temos certeza que no médio e longo prazos o tráfego irá crescer. O mercado brasileiro é muito bom.”

A Fraport deverá ir às compras em consórcio. A tendência é que seja um parceiro local, que já conhece o mercado, mas não a EcoRodovias, que voltará a focar em seu nicho-mãe, as concessões rodoviárias.

Os editais dos aeroportos devem ser lançados em novembro e o leilão será realizado no primeiro trimestre de 2017. Os lances podem ser feitos para todos os quatro, mas um mesmo licitante só pode ficar com dois – sendo um em cada região.

As principais dúvidas recaem sobre a rentabilidade dos projetos e a definição da alocação de riscos. “Temos interesse nos quatro aeroportos, mas tem de ser bom tanto para o governo quanto para o negócio”, diz Alejandra Soto, responsável pelo planejamento financeiro do GAP. O grupo, de capital aberto, tem 13 aeroportos, sendo 12 no México – o maior deles é o aeroporto internacional de Guadalajara, com quase 10 milhões de passageiros em 2015 – e um na Jamaica. Se entrar na disputa, será a estreia no país do grupo, que ainda analisa se irá sozinho ou em parceria.

Em Salvador, o primeiro do Nordeste, os maiores desafios são a desapropriação da área para a construção da segunda pista e a definição do tamanho das responsabilidades ambientais.

Em Porto Alegre, restam dúvidas sobre a necessidade de um sistema de drenagem da pista e do pátio, que exigiria investimento na casa de mais uma centena de milhões, de acordo com interessados, e sobre a desapropriação de área para a extensão da pista. O mercado avalia que talvez por isso o investimento exigido neste aeroporto tenha aumentado de R$ 1,6 bilhão para R$ 1,9 bilhão, conforme a última atualização do PPI.

Além disso, há quem mantenha ceticismo quanto à viabilidade do negócio caso o antigo projeto de um segundo aeroporto em município próximo saia do papel. A falta de acesso rodoviário ao novo terminal em Florianópolis também é uma questão que alguns interessados levantaram.

As empresas demonstram ainda preocupação em relação às alternativas de financiamento e mostram-se pouco confortáveis com a dependência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para propor um preço competitivo no leilão.

Há, ainda, um olhar cuidadoso sobre o montante de investimento requerido. A avaliação de alguns empresários é de que a demanda dos aeroportos deve ser menor esse ano em relação ao período de realização dos estudos – e há expectativa de que ainda sofram redução em 2017 –, o que poderia fazer com que o investimento previsto gere excesso de capacidade. Contudo, é consenso que esse efeito não deve ter tanto peso ao longo dos 30 anos da concessão.

A Zurich, que é sócia da brasileira CCR no aeroporto de Confins (MG) também declarou interesse. “Estamos muito animados para participar da nova onda de privatizações”, disse Balint  Szentivanyi, vice-presidente de desenvolvimento de negócios internacionais da Zurich Airport, destacando que estará atento às regras de obrigações de construção. A concessionária BH Airport teve de arcar com obras a cargo da Infraero em Confins – o que ensejou um pedido de reequilíbrio do contrato.

A Zurich tem acordo com o fundo de private equity Vinci Partners para ir ao leilão – em princípio, todos os quatro interessam. O alemão Avialliance está fechado com o Pátria Investimentos.

Além desses grupos, pelos menos outros três têm intenção de entrar na disputa. A CCR; o espanhol Ferrovial, que é controlador do aeroporto de Heathrow (Londres); e o argentino Corporación América, que controla a Inframerica, administradora dos aeroportos de Natal e Brasília.

Conforme o Valor adiantou, os documentos não trarão cláusula de barreira contra a concentração de mercado de quem já tem concessão, dessa forma a Inframerica poderá disputar o leilão – uma dúvida até então. Única concessionária com ativo numa das regiões dos aeroportos a serem licitados, é considerada uma concorrente agressiva.

Construtoras brasileiras de porte médio também avaliam entrar no negócio, que terá um perfil diferente das rodadas anteriores, em que grandes empreiteiras locais ancoravam – diretamente ou via concessionárias de que são sócias – os consórcios com operadoras internacionais. Enroladas na Lava-Jato ou em dificuldades financeiras – às vezes os dois – essas empresas vão ficar fora da nova onda.

Fonte: Valor

Por Fernanda Pires e Victória Mantoan | De São Paulo

Leia também

O preço das passagens

Sem disponibilizar os bilhões que estão em Fundos, governo idealiza reduzir preços das passagens aéreas. Mas e os operadores? Reza uma história que durante a

Leia mais »

© 2024 All Rights Reserved.